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Violência policial no Sapê do Norte reduz após denúncia, mas tensão continua

Helicóptero oficial fez voos rasantes sobre as casas. Em terra, carros da PC e da Suzano intimidam moradores

Após denúncia feita em Século Diário na última sexta-feira (11), moradores da comunidade quilombola de São Domingos, em Conceição da Barra, norte do Estado, relatam que houve redução da violência policial e da segurança patrimonial da Suzano Papel e Celulose (ex-Fibria e ex-Aracruz Celulose), mas as intimidações continuam, tanto em terra quanto no céu. 

“Quando a gente precisa da Polícia aqui, que é zona rural, ela não vem. Agora, quando a Suzano pede, ela atende. Eles vêm sempre em dois, três carros, da Polícia e da segurança da Suzano, um atrás do outro, parando nas casas, perguntando, intimidando. Estão perseguindo a nossa comunidade, mais uma vez”, relata Maria Florentino.

Integrante do território quilombola tradicional do Sapê do Norte, formado também por São Mateus, a comunidade é um das maiores que lutam pela titulação de suas terras, dentre as 32 já certificadas pela Fundação Palmares e que aguardam há 15 anos a finalização do processo de regularização fundiária. 

Após a denúncia, a abordagem policial tem sido menos agressiva, relatam os moradores. “Antes era tiroteio, mostravam armas…agora eles só perguntam, vão de casa em casa perguntando, coisas que as pessoas nem sabem responder, muitos idosos nem entendem o que está acontecendo e ficam com medo, correm para dentro de casa”, conta Altiene Balbino, o S. Pipi. 

“Quem é dono desse forno de carvão? E daquele? Quem mora aqui e ali? Parece investigação mesmo, a mando da empresa. Perguntam para as pessoas que nem sabem o que dizer, amedrontam as pessoas”, reforça Maria.

Foto Leitor

Resistência 

São Domingos é berço de lideranças fortes, como o pai de Maria, o Mestre Berto Florentino, regente do Ticumbi de Conceição da Barra, uma das manifestações folclóricas mais icônicas do Espírito Santo. É também um dos centros de resistência contra a criminalização da atividade de coleta, queima e venda de resíduos de eucaliptos. Os galhos e pontas são doados pela Suzano, mas os trabalhadores são constantemente acusados de roubo pela Polícia, que não aceita a nota entregue pela empresa aos quilombolas, como garantia da doação do material. 

A atividade é uma das poucas fontes de renda dos moradores, assolados pela morte de seus rios e córregos ancestrais em função do monocultivo de eucalipto iniciado pela Aracruz Celulose na década de 1970, e, mais recentemente, pelo crime da Samarco/Vale-BHP no Rio Doce. 

Após a emblemática mobilização de janeiro, um acordo vem sendo costurado pelo setor jurídico da empresa e as comunidades, que aceitaram uma oferta de atendimento voluntário de um escritório de advocacia que os defendem na reivindicação por indenização pelo crime da Samarco/Vale-BHP.

Há dois meses, lideranças da comunidade organizaram uma mobilização, em protesto contra a criminalização da atividade, após mais uma apreensão de caminhão e multa ao motorista, que carregava os galhos doados. Unidos, os trabalhadores pararam o trânsito de ônibus com empregados de uma unidade da Suzano na BR-101, na altura do trevo para a sede de Conceição da Barra. 

Antes desse dia, conta Maria, a Suzano havia feito uma temporada de questionamentos junto à comunidade, sem a presença da polícia, somente por uma empresa contratada pela papeleira para fazer uma pesquisa. “A Suzano pagou uma equipe para perguntar sobre corte e plantio de eucaliptos. O que a gente acha, se acha bom. Foi um pouco antes da mobilização dos caminhões”, relata.

Divulgação/GovES

Perseguição

Após a mobilização, no entanto, a presença no território se tornou mais agressiva. “A empresa ficou brava com a mobilização, porque diz que deu muito prejuízo pra ela ficar aquele tempo todo parada. Agora estão pegando coisa que aconteceu naquele dia e vindo atrás da gente, coisa que nem aconteceu aqui, foi de outra comunidade, e coloca como sendo daqui. Está perseguindo a comunidade, desrespeitando mesmo. É drone em cima da gente, é helicóptero passando baixinho, em cima das casas. A comunidade está sendo encurralada”, suplica. 

O sobrevoo de helicóptero ocorreu na manhã dessa terça-feira (15) e os moradores acreditam tratar-se de parte da investigação policial. O Núcleo de Operações e Transporte Aéreo (NOTAer), da Secretaria da Casa Militar do governo do Estado, confirmou a presença da aeronave na região na data informada, mas não deu detalhes. “Tivemos algumas missões no norte do Estado. Por enquanto, nada a ser divulgado”, respondeu a assessoria do NOTAEr nessa quarta-feira (16).

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